Rural Move na Raia
Saídos da madrugada gélida de Miranda do Douro, onde o termómetro marcava -5º, seguimos Rio Douro abaixo até à aldeia Barca D’Alva (Município de Figueira de Castelo Rodrigo), colada à fronteira com Espanha. O sol que foi aparecendo e aquecendo era um prenúncio do dia caloroso que se ia viver.
O 2º Encontro da Iniciativa Transfronteiriça teve lugar na Plataforma de Ciência Aberta, um projeto de inovação social do Município de Figueira de Castelo Rodrigo, que nasceu em 2017, com a missão de aproximar a ciência, a tecnologia e a inovação do quotidiano das comunidades locais e regionais, e de utilizar a investigação e a inovação como ferramentas para o desenvolvimento comunitário.
O encontro serviu, uma vez mais, para facilitar o diálogo e a partilha entre 27 entidades, de cariz público e privado, de Portugal e Espanha, preocupadas com o futuro e com o desenvolvimento sustentável das regiões dos rios Douro e Águeda.
Desde 2024, esse grupo de atores preocupados com o futuro desta região raiana, está a unir esforços para enfrentar os desafios demográficos, económicos, culturais e ambientais, comuns a ambos os lados da fronteira, procurando encontrar em soluções que promovam o desenvolvimento sustentável da região e a colaboração transfronteiriça.
Com o rio Douro e os montes de Espanha como pano de fundo, este 2º encontro esteve orientado para a partilha de ideias e projectos que impactem positivamente este território transfronteiriço. Aproveitando esta inteligência coletiva, foi possível reforçar a confiança entre os participantes e encontrar sinergias para colocar em prática projetos comuns, capazes de trazer inovação e dinamismo a este território.
O futuro da raia: ideias em debate
Em duas rondas, foram apresentadas aos participantes cerca de uma dúzia e ideias vindas dos mais diversos setores, onde a procura pela manutenção do delicado equilíbrio entre sustentabilidade ambiental, cultural e social e o desenvolvimento económico foi uma constante.
A maior parte dessas ideias, evidenciaram esforços para aproveitar e integrar o potencial natural e cultural destas áreas fronteiriças. Esse foi o caso do projeto de António Monteiro, da USAL, que pretende que se reconheça o valor dos recursos e património do território através da criação do Parque Natural Internacional Arribas do Douro/Duero.
Já o projeto internacional de repovoamento DOTGUA, apresentado por Jesús Corral Arroyo, da Iniciativa Vetona, propõe revitalizar as regiões despovoadas entre o Douro e o Guadiana e atrair pessoas e empresas para transformar a região num motor económico sustentável. Susana Arroyo, da mesma associação, está a trabalhar junto das entidades competentes, para que se reconheça a linha férrea La Fuente de San Esteban – Barca d’Alva como Património Mundial da UNESCO.
Na busca por um desenvolvimento integrado da região, Miguel Nóvoa, a representar a Palombar, propôs a criação de uma organização de produtores locais, uma entidade que agregue, represente, valorize e promova os produtores da região.
Também o turismo, enquanto ferramenta de desenvolvimento sustentável de um território, não foi esquecido. Foram feitas proposta para a criação de uma rede de guias turísticos locais, indicada por Marco Ferraz da Ambieduca, a proposta de mapeamento e inventariação de trilhos sinalizados na margem esquerda do Águeda, feita por José António Lopes, de Conociendo Arribes ou mesmo a recriação da confecção tradicional do pão num forno comunitário, proposta pela Isabel, do Canto da Gadanha são outras ideias que colocaram a tónica na valorização do Património material e imaterial do território.
Apresentações de Ideias
Por outro lado, reconhecendo que a monitorização do impacto do turismo é essencial para garantir o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação ambiental, Emanuel Catarino da AEPGA, sugeriu criar um sistema de monitorização para avaliar e divulgar o impacto do turismo no Parque Natural do Douro Internacional e no Parque Natural Arribes del Duero.
A cultura também não ficou esquecida neste processo de cocriação. Vicenta Maldonado, da Vida en La Raya, propôs a criação de um clube de leitura Hispano-Luso, um clube de leitura transfronteiriço, focado em jovens, com potencial para explorar o património literário da região. Já Vicente Guerra, da Ribacvdana, propôs um festival comemorativo para celebrar o Dia da Europa incluindo atividades culturais e históricas que unam as comunidades de ambos os lados da fronteira, culminando num “abraço” simbólico.
Terminamos com a proposta de organização de um Festival Transfronteiriço de Arte, Natureza e Tecnologia, ideia de Fernando Sanchéz e Salomé, do MolinoLab, que pretendem que este seja um festival disruptivo, imersivo e sensorial, que ponha em valor a potencialidade do território para promover e receber parceiros das indústrias criativas.
Participação Activa e Co-Criação
Próximos Passos
Sem dúvida, foi uma manhã muito produtiva, marcada pelo entusiasmo dos participantes em responder aos desafios propostos e pela vontade de fazer mais e melhor por este território que apesar das fronteiras administrativas, se reconhece unido num objetivo, numa visão comum. Como nos comentou um habitante da região: “ideias não nos faltam, não temos é recursos e conhecimentos para as implementar”, ou seja, muitas vezes o que falta são competências técnicas, facilidade de acesso a ferramentas digitais, financiamento adequado, etc., e é aqui que o trabalho, as sinergias desenvolvidas dentro deste grupo podem fazer a diferença.
Nesse exercício de co-criação, os participantes foram bastante proativos na sugestão de caminhos, sinergias e ideias complementares que possam contribuir para a materialização dos projetos propostos. Também a Rural Move manifestou a disponibilidade para integrar alguns dos grupos de trabalho, numa ótica de cooperação transfronteiriça que contribua para um território mais coeso e mais sustentável.
No sentido de sublinhar o compromisso dos participantes com as ideias apresentadas e com a preservação do património natural e cultural, aliado ao desenvolvimento económico e à colaboração transfronteiriça, foi ainda nomeada uma comissão coordenadora que se encarregará de criar as pontes entre as diversas entidades e de organizar o próximo encontro.
Não podemos terminar este artigo tecer aqui um agradecimento especial a Fuen da Ruralizate e a Javier Barahona, da Poblando Lumbrales, ambos apaixonados pela região, parceiros da Rural Move em actividades passadas e que nos convidaram a estar presentes.
Nós, na Rural Move, acreditamos que esta iniciativa transfronteiriça é mais uma prova de que a Raia continua a ser um território de oportunidades, onde tradição e inovação se podem encontrar para construir um futuro mais próspero. Cabe a cada um de nós garantir que as próximas gerações possam continuar a desfrutar de um território único, marcado pela riqueza do seu Património e pela vontade das suas gentes.
Gostavas de fazer parte da transformação da Raia?
Junta-te à Rural Move e contribui para iniciativas que protegem e valorizam o nosso Interior. Tal como muitos destes projectos que mencionámos, podes ajudar a construir um futuro mais sustentável, promovendo um impacto positivo nas comunidades locais.
Vem colocar a Raia em Movimento!
Nota: Todas as fotografias que acompanham este artigo foram capturadas por mim, Andréa Barbosa, no decurso da iniciativa.