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As profundas alterações nas configurações territoriais, em Portugal, a que temos vindo a assistir nas últimas décadas, têm vindo a resultar, em termos práticos, no desenvolvimento de um conjunto de novos desafios mas também de novas oportunidades.

A par de um incontornável movimento migratório das populações para as cidades (sejam elas dos territórios rurais para as cidades-médias mais próximas, como do interior para o litoral, como até para cidades estrangeiras), temos vindo a assistir – em especial durante e após a pandemia COVID’19 – a uma redescoberta e interesse pelos territórios rurais do interior.

Por outro lado, a emergência de um novo paradigma tecno-económico caracterizado pela crescente importância do conhecimento, da inovação e da criatividade, e acompanhado pela tendência para a globalização dos processos económicos, da produção e da gestão da informação, sustentada sobretudo nas tecnologias de informação e comunicação; impulsionaram o crescimento e a generalização do teletrabalho. Com estas novas dinâmicas, os territórios de baixa densidade, do interior, cresceram em atratividade.

Passadiços do Penedo Furado – Vila de Rei

Nos últimos anos, Portugal vinha já a afirmar-se pela capacidade de atrair investimento estrangeiro (vejamos o exemplo da relocalização da Web Summit, em Lisboa), sobretudo nas áreas tecnológicas – devido à localização geoestratégica, ao clima ameno e à segurança, mas e sobretudo devido à oferta de capital humano altamente qualificado e a baixo custo –, embora concentrado sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

Neste momento, a flexibilização do teletrabalho, a disseminação de espaços de incubação e cowork à escala nacional, a qualidade da vida e do tempo que se experiencia no interior; mas também os incomportáveis preços para aquisição e/ ou aluguer de casas nas grandes cidades portuguesas, o aumento dos preços dos combustíveis e bens de primeira necessidade, as majorações nos financiamentos para empresas nos territórios de baixa densidades dos Programas de Financiamento são fatores a ter em consideração quando se procuram as melhores localizações geográficas para os investimentos: e com este novo quadro conceptual em mente, os territórios do interior ficam claramente em vantagem.

Outro mérito que podemos atribuir à Pandemia COVID’19 foi a redescoberta dos espaços próximos: as ruas, as praças, os jardins, os parques. Os espaços naturais revelaram-se fundamentais na manutenção da saúde mental, e da redução dos níveis de stress, do bem estar da comunidade e do desenvolvimento saudável das crianças.

Estas tendências revelam também uma desconstrução da dicotomia tradicional entre rural urbano (distante já do conceito de rural como um espaço atrasado, tradicional e resistente às mudança e do urbano como um espaço moderno e social); e uma maior valorização da vida em espaços rurais.

Nos diversos territórios, e dando como exemplo as realidades que conheço mais de perto, mais do que nunca, ficou evidente a importância dos Parques Urbanos e espaços de lazer – o Parque Urbano de S. Lourenço, em Abrantes; o Parque do Bonito, no Entroncamento; o Parque da Carvalha, na Sertã; o Parque de Escultura Contemporânea Almourol em Vila Nova da Barquinha; o Parque do Mouchão e a Mata Nacional dos Sete Montes, em Tomar; o Jardim das Rosas, em Torres Novas, etc, etc, etc.

Parque de Escultura Contemporânea Almourol de Vila Nova da Barquinha.

Outro setor que tem estado debaixo de todos os holofotes durante esta pandemia, apesar dos fortes constrangimentos e quebras acentuadas, tem sido o do Turismo. Se, por um lado, existiram inúmeros impedimentos à mobilidade, também é certo que os portugueses optaram e optam com mais frequência por descobrir a diversidade e as riquezas de Portugal, temendo o receio do contágio e privilegiando, assim, a segurança de refúgios longe das multidões. Além dos recursos endógenos mais conhecidos, nomeadamente ao nível do Património Histórico, Religioso, Cultural e Natural – recordo o Castelo e Convento de Cristo em Tomar, o Castelo de Almourol, a Capelinha das Aparições em Fátima, o Museu Nacional Ferroviário em Entroncamento, o Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo em Mação, as diversas Igrejas e Capelas, o Rio Tejo, o Rio Zêzere, os passadiços do Penedo Furado, a Albufeira de Castelo do Bode, a Praia Fluvial de Olhos d’Água em Alcanena – há ainda muito por explorar e promover por parte das entidades e potenciais investidores dedicados do Setor do Turismo. O Turismo, ao atrair novos visitantes e dar a conhecer o vasto potencial de riquezas e oportunidades, contribui decisivamente para o desenvolvimento dos demais setores, tendo por isso um efeito estruturante.

Uma palavra final para a importância da valorização dos espaços (naturais, culturais e identitários) e das sociabilidades por parte dos habitantes e entidades que habitam o interior. E em especial os centros históricos das nossas cidades interiores – pontos de encontro – espontâneos ou combinados – dos habitantes e locais de visita obrigatórios para turistas nacionais e estrangeiros que nele encontram traços culturais genuínos e diferenciadores, que muito dizem sobre as caraterísticas e as tradições da comunidade.

Por: Sónia Pedro – Licenciada em Antropologia Social e Cultural e Mestre em Sociologia, Gestora científica no Centro de Inovação e Competências da Floresta e fundadora da Associação Médio Tejo Criativo.

Florentino de Pinho

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