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A opinião do nosso Coordenador João Almeida no Postal do Algarve.

Os territórios rurais de toda a Europa têm vindo a sofrer vários desafios estruturais que têm alimentado um ciclo vicioso de declínio, que afecta o seu potencial de desenvolvimento e a sua resiliência perante crises. Os territórios de baixa densidade em Portugal cobrem 80% do território continental português abrangendo, no entanto, menos de 20% da população. O despovoamento estrutural de várias regiões do país nas últimas décadas tem criado diversos obstáculos e falta de oportunidades nestes territórios. O desinvestimento, e até desinteresse, quer por parte dos actores públicos quer privados, que direccionam o investimento e atenções para as grandes cidades, e que, como consequência, origina menores oportunidades de educação, profissionais e culturais, tem transformado o país numa espécie de grande arquipélago, onde apenas algumas “ilhas” (um número limitado de pólos dinâmicos) se destacam num “mar” de dificuldades (Mateus, 2017).

Por outro lado, as mesmas características que caracterizam os territórios rurais podem também ser vistas como oportunidade de ‘diferenciação’ destes territórios já que, esses mesmos territórios, podem liderar as diversas mudanças que estão a acontecer na nossa sociedade, relacionadas com a economia verde, economia circular e novas formas de trabalho.

Muitas têm sido as estratégias, iniciativas ou intenções de agarrar estas oportunidades: – a criação da rede de espaços de teletrabalho, incentivos à mobilidade, a construção de novas infraestruturas, entre outras. Todas elas com a sua importância e contributo, mas muitas seguindo uma abordagem tradicional, igual para todos os territórios, definidos de “cima para baixo”, com uma falha num dos ingredientes principais – o envolvimento e a existência de uma comunidade dinâmica e acolhedora. As pessoas não se mudam apenas para um território, mudam-se para uma comunidade. Viver num lugar é diferente de viver “um” lugar. Não há atracção de pessoas sem comunidades rurais dinâmicas, tal como não há comunidade rurais dinâmicas sem estratégias de atracção e retenção de pessoas, estando ambas umbilicalmente ligadas.

A Rural Move: o ponto de encontro da nova ruralidade

É neste contexto de desafios e oportunidades, e da necessidade de criar pontes entre quem já vive e quem quer viver em localidade rurais, que surgiu, em 2020, a **Rural Move – Associação para a Promoção do Investimento nos Territórios de Baixa Densidade**, como um movimento nacional de apoio e dinamização das comunidades rurais e a quem nelas quer viver, trabalhar ou investir.

Para criar estes pontos de encontro e promover esta (re)nova(da) ruralidade, a Rural Move tem vindo a lançar diversos projectos, entre os quais a plataforma Rural Move, a Academia de Líderes Rurais, as Rural Experiences – experiências curtas de trabalho remoto em contexto rural, entre muitos outros encontros, presenciais e virtuais. Através desses e de outros projectos e sustentada numa rede com mais de 70 voluntários e parceiros em mais de 30 territórios rurais, a Rural Move já apoiou mais de 300 “Rural Movers” e impactou mais de 750 residentes com as suas iniciativas.

O futuro dos Territórios Rurais depende de todos

Felizmente são muitas as iniciativas e movimentos a contribuir para o renascimento das zonas rurais. O desafio agora é mobilizar mais pessoas e recursos para que esta transformação se torne uma realidade sustentável e duradoura. Se há algo que a experiência da Rural Move me tem ensinado é que todos temos um papel a desempenhar na construção desta (re)nova(da) ruralidade. Seja como empreendedores, inovadores, líderes comunitários ou simplesmente como pessoas interessadas em viver nestes territórios, todos podemos contribuir para revitalizar e/ou para o desenvolvimento sustentável das zonas rurais de Portugal. E, como dizia o poeta Ovídio, “poucos rios surgem de grandes nascentes, mas muitos crescem recolhendo fios de água”. Contamos, convosco?

João Almeida

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