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Rural Move na Raia

Saídos da madrugada gélida de Miranda do Douro, onde o termómetro marcava -5º, seguimos Rio Douro abaixo até à aldeia Barca D’Alva (Município de Figueira de Castelo Rodrigo), colada à fronteira com Espanha. O sol que foi aparecendo e aquecendo era um prenúncio do dia caloroso que se ia viver.

O 2º Encontro da Iniciativa Transfronteiriça teve lugar na Plataforma de Ciência Aberta, um projeto de inovação social do Município de Figueira de Castelo Rodrigo, que nasceu em 2017, com a missão de aproximar a ciência, a tecnologia e a inovação do quotidiano das comunidades locais e regionais, e de utilizar a investigação e a inovação como ferramentas para o desenvolvimento comunitário.

O encontro serviu, uma vez mais, para facilitar o diálogo e a partilha entre 27 entidades, de cariz público e privado, de Portugal e Espanha, preocupadas com o futuro e com o desenvolvimento sustentável das regiões dos rios Douro e Águeda.

Centro Ciência Viva, Plataforma Ciência Aberta, Barca d’Alva (17 janeiro)

Desde 2024, esse grupo de atores preocupados com o futuro desta região raiana, está a unir esforços para enfrentar os desafios demográficos, económicos, culturais e ambientais, comuns a ambos os lados da fronteira, procurando encontrar em soluções que promovam o desenvolvimento sustentável da região e a colaboração transfronteiriça. 

Com o rio Douro e os montes de Espanha como pano de fundo, este 2º encontro esteve orientado para a partilha de ideias e projectos que impactem positivamente este território transfronteiriço. Aproveitando esta inteligência coletiva, foi possível reforçar a confiança entre os participantes e encontrar sinergias para colocar em prática projetos comuns, capazes de trazer inovação e dinamismo a este território.

“A distancia nadie adivina el profundo tajo por donde el Duero corre; la ondulante llanada castellana parece ir a perderse suavemente, y sin solución alguna de continuidad, en las estribaciones de la sierra de la Estrella que cierran, hacia la parte de Portugal el horizonte”

“Los arribes del Duero”, de Miguel de Unamuno (1898)

 

Parque Natural Douro Internacional

O futuro da raia: ideias em debate

Em duas rondas, foram apresentadas aos participantes cerca de uma dúzia e ideias vindas dos mais diversos setores, onde a procura pela manutenção do delicado equilíbrio entre sustentabilidade ambiental, cultural e social e o desenvolvimento económico foi uma constante.

A maior parte dessas ideias, evidenciaram esforços para aproveitar e integrar o potencial natural e cultural destas áreas fronteiriças. Esse foi o caso do projeto de António Monteiro, da USAL, que pretende que se reconheça o valor dos recursos e património do território através da criação do Parque Natural Internacional Arribas do Douro/Duero.

Já o projeto internacional de repovoamento DOTGUA, apresentado por Jesús Corral Arroyo, da Iniciativa Vetona, propõe revitalizar as regiões despovoadas entre o Douro e o Guadiana e atrair pessoas e empresas para transformar a região num motor económico sustentável. Susana Arroyo, da mesma associação, está a trabalhar junto das entidades competentes, para que se reconheça a linha férrea La Fuente de San Esteban – Barca d’Alva como Património Mundial da UNESCO.

Na busca por um desenvolvimento integrado da região, Miguel Nóvoa, a representar a Palombar, propôs a criação de uma organização de produtores locais, uma entidade que agregue, represente, valorize e promova os produtores da região.

Também o turismo, enquanto ferramenta de desenvolvimento sustentável de um território, não foi esquecido. Foram feitas proposta para a criação de uma rede de guias turísticos locais, indicada por Marco Ferraz da Ambieduca, a proposta de mapeamento e inventariação de trilhos sinalizados na margem esquerda do Águeda, feita por José António Lopes, de Conociendo Arribes ou mesmo a recriação da confecção tradicional do pão num forno comunitário, proposta pela Isabel, do Canto da Gadanha são outras ideias que colocaram a tónica na valorização do Património material e imaterial do território.

Apresentações de Ideias

Por outro lado, reconhecendo que a monitorização do impacto do turismo é essencial para garantir o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação ambiental, Emanuel Catarino da AEPGA, sugeriu criar um sistema de monitorização para avaliar e divulgar o impacto do turismo no Parque Natural do Douro Internacional e no Parque Natural Arribes del Duero.       

A cultura também não ficou esquecida neste processo de cocriação. Vicenta Maldonado, da Vida en La Raya, propôs a criação de um clube de leitura Hispano-Luso, um clube de leitura transfronteiriço, focado em jovens, com potencial para explorar o património literário da região. Já Vicente Guerra, da Ribacvdana, propôs um festival comemorativo para celebrar o Dia da Europa incluindo atividades culturais e históricas que unam as comunidades de ambos os lados da fronteira, culminando num “abraço” simbólico.

Terminamos com a proposta de organização de um Festival Transfronteiriço de Arte, Natureza e Tecnologia, ideia de Fernando Sanchéz e Salomé, do MolinoLab, que pretendem que este seja um festival disruptivo, imersivo e sensorial, que ponha em valor a potencialidade do território para promover e receber parceiros das indústrias criativas.

Participação Activa e Co-Criação

Próximos Passos

Sem dúvida, foi uma manhã muito produtiva, marcada pelo entusiasmo dos participantes em responder aos desafios propostos e pela vontade de fazer mais e melhor por este território que apesar das fronteiras administrativas, se reconhece unido num objetivo, numa visão comum. Como nos comentou um habitante da região: “ideias não nos faltam, não temos é recursos e conhecimentos para as implementar”, ou seja, muitas vezes o que falta são competências técnicas, facilidade de acesso a ferramentas digitais, financiamento adequado, etc., e é aqui que o trabalho, as sinergias desenvolvidas dentro deste grupo podem fazer a diferença.

Nesse exercício de co-criação, os participantes foram bastante proativos na sugestão de caminhos, sinergias e ideias complementares que possam contribuir para a materialização dos projetos propostos. Também a Rural Move manifestou a disponibilidade para integrar alguns dos grupos de trabalho, numa ótica de cooperação transfronteiriça que contribua para um território mais coeso e mais sustentável. 

No sentido de sublinhar o compromisso dos participantes com as ideias apresentadas e com a preservação do património natural e cultural, aliado ao desenvolvimento económico e à colaboração transfronteiriça, foi ainda nomeada uma comissão coordenadora que se encarregará de criar as pontes entre as diversas entidades e de organizar o próximo encontro.

Não podemos terminar este artigo tecer aqui um agradecimento especial a Fuen da Ruralizate e a Javier Barahona, da Poblando Lumbrales, ambos apaixonados pela região, parceiros da Rural Move em actividades passadas e que nos convidaram a estar presentes.

Nós, na Rural Move, acreditamos que esta iniciativa transfronteiriça é mais uma prova de que a Raia continua a ser um território de oportunidades, onde tradição e inovação se podem encontrar para construir um futuro mais próspero. Cabe a cada um de nós garantir que as próximas gerações possam continuar a desfrutar de um território único, marcado pela riqueza do seu Património e pela vontade das suas gentes.

 

Gostavas de fazer parte da transformação da Raia?
Junta-te à Rural Move e contribui para iniciativas que protegem e valorizam o nosso Interior. Tal como muitos destes projectos que mencionámos, podes ajudar a construir um futuro mais sustentável, promovendo um impacto positivo nas comunidades locais.

Vem colocar a Raia em Movimento!

Nota: Todas as fotografias que acompanham este artigo foram capturadas por mim, Andréa Barbosa, no decurso da iniciativa.

Andrea Barbosa

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